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CIDADE DO MEDO – HISTÓRIAS DE ALÉM RIO

Apresentação

Que tempos são esses, não é mesmo? Havia muito que não passávamos por anos tão sombrios. Pandemia, fome avançando, desemprego, catástrofes naturais, desastres causados pelo homem. Depressão. Morte. Muitas mortes. No mundo todo.

Alguém em busca de inspiração para uma história de terror só precisa abrir um portal de notícias. Está lá, tudo registrado, e nós somos os personagens, às vezes em destaque, às vezes em segundo plano (mas nunca planos!).

Mas há um jeito de transformar o horror em beleza. É pela arte.

Com essa certeza em mente, nós, do Gog Ideias Iltda, essa escola livre de artes, decidimos propor às professoras do “Narrativas de Terror”, Irka Barrios e Andrezza Postay, que convidassem os alunos para a criação de um livro de contos como resultado final do curso.

E aqui está você, com o produto dessa criação coletiva em mãos.

Para tanto, tivemos a ajuda inestimável da Caroline Joanello e da Júlia Dantas, da Baubo. Sem elas, não teríamos este que é nosso primeiro movimento editorial que perpassa todas as áreas da criação de uma obra: da concepção à finalização e comercialização.

Sem me alongar, preciso registrar que Irka e Andrezza conduziram de maneira muito competente o desafio proposto. Em conjunto com os alunos, imaginaram uma cidade para ser o palco de todas as histórias criadas.

As comunidades, vocês já devem saber, também podem ser personagens. Ou elementos de resistência, nas mais diversas manifestações que recebem, rejeitam ou adotam. Vejamos Erico Verissimo, por exemplo, que nos apresentou Antares em 1971. Com o uso do fantástico e do sobrenatural, ele fez críticas ao regime militar brasileiro da época.

E o que falar das ambientações das histórias de Stephen King, o rei do horror? Ele trabalha tão bem a questão do espaço que transforma o local descrito em parte fundamental para o impacto que quer causar no leitor.

Essa atmosfera, não se engane, não é algo simples de ser construída. O trabalho para que um texto fuja de clichês e não escorregue em soluções mágicas ou fáceis demais é homérico. Um trabalho artesanal, de criatividade, de construção, mas também de desconstrução.

Temos, muitas vezes, que abrir mão de ideias que pareciam boas na primeira olhada, mas já se mostram caducas depois de algumas noites de sono. Porque, sim, aprendemos que tão importante quanto seguir escrevendo é deixar o texto dormir. Um olhar descansado sempre nos mostra caminhos ainda não vistos.

Neste livro, temos histórias que parecem ser, mas não são (e se você não é da área da literatura, saiba que isso é um grande elogio). Você acha que está lendo sobre uma bruxa, mas aí se dá conta de que há algo muito mais profundo. Vamos conversar sobre preconceitos? Sobre fé cega? Sobre traição? Sobre ignorância? Porque o terror literário pode estar travestido também disso tudo, e não apenas de sustos ou medos. E é por isso que esse é um terror que aguentamos. Porque nos faz pensar. A literatura, afinal, nos transforma positivamente.

Mas, pode ficar tranquilo, este não é um livro com pretensões doutrinárias. Cada um, com sua bagagem de vida e literária, terá as próprias sacadas a respeito de cada história. É por isso que um determinado leitor se dará conta de algo escondido nas entrelinhas, enquanto outro manterá os olhos na superfície do texto. Eu, por exemplo, encontrei em alguns contos traços de “Casa tomada”, de Julio Cortazar, e de “Alice no País das Maravilhas” (mas sem as maravilhas), de Lewis Carroll, e certamente deixei passar outras tantas referências.

Há, neste livro, um terror esotérico, mas também há críticas sociais. Há violência, mas também há (algum) amor. Há um pé no realismo mágico, e outro na realidade crua do cotidiano.

Foi com muita alegria que pude ser um dos primeiros leitores destes contos. São textos de gente que, em alguns casos, dá seus primeiros passos no mundo da Escrita Criativa, um caminho sempre admirável. Em um mundo tão doido como esse, sempre esperamos que a arte seja uma das formas de encontrarmos alívio.

Ah, sim. Todas as histórias deste livro se passam na cidade de Além Rio, que conhecemos quando ainda é um pequeno povoado, em 1696, e acompanhamos em direção a um futuro em que os extraterrestres já estão entre nós e o céu tem aquele ar sombrio de “Blade Runner”.

O tempo passa diferente na cidade. As dores têm cores. E, nós, às vezes somos caçadores, às vezes, a própria caça.

Se eu puder dar um conselho a você, caro leitor, cara leitora, jamais passe por este lugar.

Também não pegue carona nas imediações deste lugar.

Pensando bem, talvez eu devesse ter colocado este aviso lá no começo.

Boa sorte a quem não leu a apresentação.

André Roca
Jornalista, escritor e professor

Além Rio, julho de 2021.

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P.S.: “Bolsonaro, venha nos visitar!”